Wednesday, December 14, 2005

Tiro no Pé





Santa e Bela Catarina é assim como é conhecido nosso estado. Duvidas não há nenhuma sobre a veracidade deste título. O problema é que os dirigentes atuais e passados nunca acreditaram nisso. Muitas vezes li nos mais variados veículos de informação que o turismo representaria para Santa Catarina uma fonte de renda milionária. Já trabalhei com ecoturismo em um hotel cinco estrelas e vivenciei períodos de longa vacância nos aposentos do hotel. Nestes tempos de vacas magras, muitos funcionários eram dispensados.

Mais recentemente trabalhei como pesquisador em um projeto em Urubici sobre as aves da Mata Atlântica. Urubici é um município catarinense que só recentemente começou a ser mais conhecido pelas suas belezas cênicas. Durante três anos percorremos a região atrás de aves de rapina. Diga-se de passagem a região serrana catarinense é um HOT SPOT de concentração de espécies de aves de rapina não facilmente avistadas em outras regiões do pais. Pois falava de beleza cênica e como esta poderia ou não alavancar um desenvolvimento sustentado. A Pedra Furada está aos poucos se popularizando na mídia em geral como um dos mais belos atrativos turísticos na serra catarinense. Situada no Morro da Igreja, um dos pontos mais elevados no sul do Brasil com 1827 metros, encontra-se paradoxalmente ameaçada.

Ameaçada do que? Ocorre que vários grupos de pessoas que pensam no futuro, mais apropriadamente dito seria em seu futuro, estão realizando um grande projeto de refrolorestamento com pinus nos campos de altitude. Poderia isto acontecer? Legalmente não, pois o Morro da Igreja encontra-se nos domínios jurídicos do Parque Nacional de São Joaquim. Outros diriam que, uma vez que a União não indenizou seus proprietários, isto seria possível. O fato é que o reflorestamento com Pinus esta ocorrendo no Morro da Igreja, Campo dos Padres e em outros locais nos campos de altitude nos entornos do Parque Nacional de São Joaquim.

Caso ninguém tome providencias contra estes reflorestamentos com pinus, toda beleza cênica estará em um futuro breve escondida atrás dos pinus. Será muito engraçado e frustrante para os visitantes que para la se dirigirem para disfrutar do cenário encontrar uma barreira visual. Olha, que não são poucas as pousadas sediadas em Urubici que vendem a imagem cênica da região.

Florestas de pinus estão tomando conta da paisagem a uma velocidade incrível. Sim, florestas de pinus são importantes para nossa economia e poderiam auxiliar na conservação das florestas nativas. Mas isto é uma teoria não seguida, uma vez que nas terras abaixo da Pedra Furada, grandes extensões de florestas atlântica do sopé da Serra Geral estão sendo literalmente transformadas em carvão, para em seguida serem substituídas pelas plantações de pinus. Seria legal isto? Novamente não é legal substituir uma floresta atlântica de sopé da Serra Geral por plantas exóticas como o pinus. As encostas da Serra Geral são áreas de preservação permanente (APP). Alguém dos órgãos gestores do meio ambiente tanto estadual, ou federal faz algo contrario? Não que se perceba no ritmo destes desmatamentos e queimadas. Em resumo: todo o patrimônio natural está sendo queimado impunemente.

Nestes casos a beleza cênica atrapalha o desenvolvimento regional. Perguntariam vocês, mas e a Bela e Santa Catarina? Pois é, esta bela é não é muito cara aos donos dos empreendimentos econômicos destas regiões. Estes se apressam para conseguir licenciamentos para executarem projetos nefastos ao patrimônio natural e cênico com serias conseqüências ao meio ambiente. Gastos com a saúde publica são maiores devido a tratamentos de intoxicação por agrotóxicos na agricultura tradicional, com doenças respiratórias devido a poluição do ar por queimadas, industrias de cimento, cerâmica e outras tantas fontes.

E O TIRO NO PÉ? Pois é justamente isto que está acontecendo. Os administradores do nosso estado estão dando tiros nos nossos pés e comprometendo o nosso futuro. A beleza natural que atrai milhares de visitantes a Santa Catarina está sendo rapidamente delapidada. Nossos governantes e empreendedores estão enfeiando nossa paisagem. Poderiam estar gerando recursos econômicos com esta beleza natural sem trazer danos a Natureza que é nossa parceira natural e incondicional.

Finalizando, não podemos mais permitir como cidadãos que espaços de vida natural sejam mal utilizados e destruidos por empreendedores que somente feiúra e danos ambientais nos trazem. Aos poucos volta a velha idéia do Brasil dos anos 80 – se eles poluem, por que não podemos? Eu acho que não é por aí.

Monday, December 12, 2005


O DOBRO ADIANTA?

Tentando conhecer os danos ambientais que uma mina de fosfato acarretaria ao meio ambiente em Anitapolis, SC, consultei um amigo de infância, que agora é engenheiro de minas e vive na Austrália. Minha pergunta foi sobre os danos e ele mandou uma mensagem bem interessante e merecedora de uma boa reflexão. Já dei aulas de ecologia e meio ambiente a estudantes de engenharia e sempre achei uma necessidade este de conhecimento na bagagem de um engenheiro. O problema é que as disciplinas sobre ecologia e ambiente oferecidas aos alunos de engenharia são muito teóricas e afastadas da realidade que irão viver.
Meu amigo, que o chamarei pelo nick Pedro Mineiro, produziu umas boas perolas sobre o como compensar o dano ambiental produzido pelo empreendimento, no exemplo dele foi o caso da construção da estrada que liga Caxias do Sul ao litoral no Rio Grande do Sul. Só para situar o leitor, esta estrada desce a Serra Geral gaúcha, cortando a distância entre a serra e as praias passando por setores de Mata Atlântica em vários estágios de conservação. Algumas destas encostas estão ainda em ótimo estado de cobertura vegetal. Ocorre que uma estrada que desce uma serra, tem de fazer curvas e, muitas vezes o trajeto esbarra em uma mata bem conservada. Ambientalistas e Biólogos não gostaram do projeto e protestaram, causando atrazo e desvios no trajeto da estrada planejado pelos engenheiros.
Disse então o Pedro Mineiro “Um pequeno trecho da mata virgem serviu para embargar a execução da obra e retardou toda uma região por pura estupidez, ignorância e extremismo do órgão do meio ambiente do RS que eu até me esqueci o nome (FEPAM). Era muito simples a coisa toda. Era só mandar uma turma de estudante de biologia (ávidos por fazerem tudo de graça e cheinhos de patriotismo e boa vontade) guiados por especialistas da área (Da UFGRS) fazerem um levantamento de quantas árvores nativas seriam derrubadas e conseguir que a empreiteira ou o que lá fosse, se comprometesse em plantar o DOBRO! Que a coisa já estaria resolvida....infelizmente o que ocorre é uma briga entre dois lados que não se entendem e a obra não sai.”
Agora vocês entendem o titulo que dei a este texto e eu pergunto a todos, o DOBRO resolveria a perda das árvores originais? Provavelmente o meu amigo Pedro Mineiro, quando cursou Engenharia de Minas lá na UFRGS não aprendeu, ou se esqueceu a diferença entre uma floresta natural e uma plantação de árvores. A primeira como ele deveria já saber é o produto de séculos de evolução e a segunda é uma silvicultura, uma floresta homogênea que leva poucos anos para crescer e parecer uma mata. Dai que o Pedro Mineiro imaginou que um reflorestamento com eucalipto, ou pinus em DOBRO resolveria a questão. Este foi a primeira confusão do meu amigo.
A segunda vem agora com estas palavras: “O pior de tudo é fazer discriminação contra a mineração quando a legislação tem todos os meios de verificar de ante-mão quais as condições ambientais, além de flora e fauna serem exaustivamente amostradas para que ao término da mina as condições sejam exatamente as mesmas que eram no começo. Entendeu? Na verdade, há certas regiões que ficam mais férteis depois de mineradas do que eram antes de serem mineradas porque no plano geral o arredor era mais fértil que a área minerada (onde existia uma anomalia em certos minerais que
não propiciavam o mesmo tipo de solo que a vizinhança, entende?).” Concordo com ele que tem minas e minas. O sul catarinense é uma das regiões carboníferas mais importantes no pais e é também uma das regiões mais alteradas ambientamente. Rios contaminados e quase sem peixes. Solo acidificado impedindo a regeneração florestal e muitas, inúmeras plantações de eucaliptos. Parece que o pessoal da mineração empregou a norma do plantar em DOBRO. Mas o quadro e de irreparável devastação ambiental e social. Já a jazida do fosfato em Anitapolis tem uma historia não positiva a comunidade, uma vez que “...uma grande área do município foi desapropriada devido às jazidas de fosfato, porém este nunca chegou a ser explorado. Esta desapropriação causou um certo prejuízo para a cidade, pois na área desapropriada estão as terras mais férteis. O êxodo da cidade é um dos problemas. A população tem decrescido ao longo dos últimos anos, fato este que se agravou após a desapropriação. (Wikipidia)” O problema é que as terras mais férteis onde a jazida será explorada não estará disponível a população que foi desapropriada produzindo o êxodo rural. A garganta do Rio dos Pinheiros, onde está a jazida, tem no leito um vale que foi utilizada a agricultura e as encostas cobertas por uma mata atlântica mista. Esta garganta com cerca de 10 quilometros quadrados será impactada pela extração do fosfato. Este será o impacto inicial e fonte dos impactos seguintes, serão a poluição as águas do Rio Braço do Norte próximo as nascentes e do ar com o pó gerado na britagem para a extração do fosfato.
Outro ponto que não é considerado pelo empreendimento e seus engenheiros está associado a seu não conhecimento de Biologia da Conservação. Santa Catarina abriga uns dos melhores conservados remanescentes de Floresta Altantica no sul do Brasil. A região dos sopés e encostas da Serra Geral forma um corredor floristico e faunístico natural ligando esta à Serra do Tabuleiro. O setor mais ao sul na região de Criciúma e Orleans está muito afetado pela mineração do carvão. Já o setor entre a Serra do Corvo Branco e a Serra do Tabuleiro e um mosaico de paisagens florestais muito importante a biodiversidade regional. Anitapolis esta justamente no meio deste corredor e a exploração da jazida de fosfato apresenta um serio problema a conservação deste corredor natural. A região apresenta uma beleza impar, com paredões, canyons, encostas luxuriantes que proporcionariam muita atração ao ecoturismo e outras atividades economicas de baixo impacto.
O DOBRO não resolve a questão, uma vez que 10, ou 100 hectares de pinus, ou eucalipto não oferecem ao ecossistema o mesmo que a cobertura original. Um pouco de conhecimento de Biologia da Conservação certamente auxiliaria nosso amigo Pedro Mineiro a julgar melhor estas questões.

Sunday, December 11, 2005

A FLORESTA QUE ESTÁ VIRANDO CARVÃO

O Gavião-real-falso (Morphnus guianensis) é uma espécie de ave de rapina muito rara que ocorre em florestas úmidas da América central e do Sul. Seu nome popular é devido a sua semelhança ao Gavião-real (Harpya harpyja), sendo menor e utilizando os galhos das arvores para seus ninhos e não o tronco central como o verdadeiro gavião-real. É considerado muito raro pelos ornitólogos. Ocupa grandes territórios com área em torno de 2500 hectares e se alimenta de répteis, aves e mamíferos.

O Gavião-real-falso foi visto em Santa Catarina em Siderópolis em 1978, quando uma expedição do atual Curso de Pos Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul realizou estudos sobre o impacto da mineração do carvão nos ecossistemas locais (Albuquerque 1979). Em fevereiro de 2005 um casal desta espécie foi observada saindo de uns fragmentos florestais de bom porte a 14 km dos paredões do Espraiado, Serra do Corvo Branco na Serra Geral catarinense. As aves utilizavam termas e circulavam sobre uma região agrícola muito fragmentada de Aiure, município de Grão Pará.

O encontro desta espécie está inserido dentro dos objetivos do Projeto Gaviões-de-penacho executados pela equipe de Biólogos da Associação Montanha Viva, sediada em Urubici. A região do entorno do Parque Nacional de São Joaquim apresenta uma grande diversidade de espécies de aves de rapina diurnas. Até o momento registramos 27 espécies de Falconiformes, representando mais de 55% do total de espécies de Falconiformes na Região Sul. Entre os gaviões-de-penacho somente o Gavião-real não foi ainda avistado em nossos estudos. A presença desta espécie não é algo fora do normal para Santa Catarina, uma vez que o estado conta com um forte peso histórico. O Gavião-real foi registrado nos anos 60s, anos 80s, quando um individuo foi abatido em Pilões, interior da Serra do Tabuleiro e em outubro de 1989 eu registrei um casal em vôos nupciais sobre Caldas da Imperatriz (Albuquerque e Bruguemann 1996). O sopé da serra é parcialmente coberto com Floresta Atlântica Ombrófila Densa. A presença do gavião-real-falso em fevereiro de 2005 atesta que ainda existam alguns pares nidificando na região. Aiure está a cerca de 60 km ao norte de Sideropolis, onde registrei outro individuo em 1979. Este registro também sugere que a espécie tem uma plasticidade maior que seus parentes amazônicos, uma vez que convive com intensa atividade humana nas proximidades de seus territórios.

Santa Catarina ainda apresenta uma cobertura vegetal significativa, contando com um dos maiores remanescentes da Floresta Atlântica, que é o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Temos ainda o Parque Nacional de São Joaquim e o, em vias de ser decretado, Parque Nacional do Itajaí. Apesar destas unidades de conservação importantes, elas carregam o fardo de serem, em sua maioria, apenas de papel. Santa Catarina é também um estado com forte tradição madeireira e o lobby para o retorno das serrarias no estado é continuo em Brasília. Além das madeireiras clandestinas, temos a poderosa industria da cerâmica no sul do estado. Esta industria demanda cobustivel para seus fornos que até recentemente estavam sendo abastecidos pelo gás natural, vindo da Bolívia. Problemas sociais e políticos na Bolívia levaram a um aumento no preço do gás natural e a conseqüente busca por fontes alternativas de combustível para os fornos da industria da cerâmica.

A aparente plasticidade comportamental do Gavião-real-falso tem limites. A espécie é florestal e prima por ambientes em boas condições de conservação. As florestas que cobrem os sopés da Serra Geral vem sendo paulatinamente substituídas por plantações de pinus, campos de pastoreio e agricultura. O uso de agrotóxicos, a derrubada das florestas e a conseqüente perda de habitat são ameaças muito serias a sobrevivência do gavião-real-falso. Um fato alarmante que esta ocorrendo no momento é a queima da mata para carvão e o mesmo sendo consumido pela crescente necessidade de energia da industria da cerâmica no sul catarinense. A demanda por carvão é muito grande, acarretando uma destruição florestal mais rápida e violenta. Nossa imagens ilustram a rapidez deste processo. Após a destruição da floresta atlântica, a mesma é substituida por plantações de pinus. Nossas imagens ilustram a destruição da floresta, fornos de carvão em plena atividade e a invasão das plantações de pinus.

A destruição da Floresta Atlântica em áreas de encosta é ilegal, assim como a substituição desta por espécies exóticas como o Pinus. Atualmente, muitas pessoas em Aiure estão envolvidas com a produção do carvão vegetal. Esta atividade é atualmente uma das fontes de renda mais importantes para algumas famílias. Isto é ilusório, uma vez que quando o carvão for totalmente esgotado e a área ocupada por plantações de pinus, estas pessoas estarão na miséria. Vi cenas que mãe trouxeram a memória fotos feitas por Sebastião Salgado das crianças mineiras em seu trabalho escravo na extração do carvão vegetal, apenas que em Aiure eram crianças loiras com olhos azuis.

Além de gerar miséria, a produção do carvão vegetal renderá extinções de populações locais de espécies raras como o Gavião-real-falso e ainda não encontrado na região, mas provavelmente presente, Gavião-real propriamente dito. Estamos diante de um problema ambiental que acarretará conseqüências impensáveis a conservação de nossa biodiversidade. Precisamos tomar alguma providencia seria para impedirmos esta destruição.

Friday, December 09, 2005

Fosfateira do Rio dos Pinheiros

Uma jazida de fosfato em Anitapolis foi descobertas nos anos 70. Grupos ligados a industria dos fertilizantes compraram a area para exploracao da jazida. Este local esta situado no Alto Rio dos Pinheiros, afluente do Rio Braço do Norte que e um dos principais rios na bacia hidrigráfica do Rio Tubarão. A jazida esta no fundo de uma garganta no sope da Serra Geral. Mesmo após anos de exploração da madeira e da agricultura, as florestas estão bem conservadas. A garganta do Rio dos Pinheiros esta inserida no meio de um corredor natural floristico e faunistico que liga a Serra do Tabuleiro a Gerra geral. estas serras abrigam algumas das mais importantes unidades de conservacao de Floresta Atlantica no sul do Brasil. Os parques nacionais da Serra Geral, Sao Joaquim e o parque estadual da Serra do Tabuleiro estao conectados por este corredor natural cãoberto por um mosaico de ramanescentes de floresta Atlantica.

Aves como o Gaviao-real-falso (Morphnus guyanensis) foi registrado em fevereiro de 2005 nas proximidades da area em questão. Esta águia é uma das mais raras na America do Sul. Este registro foi de grande importancia, uma vez que sugere a continuidade da existencia de alguns pares desta aguia nos sopes da Serra Geral. O local onde o gavião-real-falso foi observado situa-se no mesmo mosaico de remanescentes florestais em que se situa a jazida de fosfato. Os remanescentes utilizados pelo gaviao-real-falso estao sendo rapidamente transformados em carvao para ser utilizado nas industrias da ceramica sul-catarinenses e substituidos por plantaçōes de Pinus.

Somando a esta ameaca em andamento, teremos agora esta industria de fertilizantes buscando explorar a jazida de fosfato em Anitapolis. Os dados ambientais deste empreendimento serão consideraveis, comprometendo a qualidade da agua no Rio Braço do Norte, gerando poluição do ar e destruindo a cobertura florestal na garganta do Rio dos Pinheiros.

O corredor de flora e fauna entre a Serra Geral e Serra do Tabuleiro é uma sugestão da Associação Montanha Viva, devido a importancia à conservação dos remanescentes florestais no mosaico que interliga as serras. Este corredor permite o fluxo gênico entre populações animais e florestais nestas serras garantindo a saude genética destes organismos.

É de grande importancia que o cidadão saiba disto e auxilie no movimento pela conservação deste corredor e em uma ação civil publica buscando embargar este empreendimento.