Saturday, November 29, 2008

DESASTRES EM SC E SUAS IMPLICAÇÕES COM O PROJETO ANITÁPOLIS

Desbarrancamento em barreiras em Anitápolis no dia 24 de novembro de 2008

Situação das estradas em Anitápolis em 24 de novembro de 2008
Fotos acima são da Prefeitura de Anitápolis

Imagem de terror no Morro do Baú
Foto: Neiva Daltrozo, deslizamento no Morro do Baú, Ilhota - (DC)

Desmoronamento em barragem em mina de ferro em Minas Gerais em 2001

A vista do Projeto Anitapolis
sugere a fragilidade do solo nas encostas expostas pela lavra.


As últimas chuvas em Santa Catarina quase bateram o record histórico brasileiro de 570 mm de água em dois dias no litoral de São Paulo em 1967. A região de Blumenau registrou 500 mm em dois dias, causando a calamidade sem precedentes no estados que ja causou a morte de 105 pessoas.

As imagens acima ilustram os efeitos das chuvas em Anitápolis no último 24 de novembro. Não é a primeira vez que a cidade fica com acesso precário e quase isolada.

Segundo a Defesa Civil em SC, a situação do Município de Anitápolis foi a seguinte:

Anitápolis: Deslizamento/alagamento, 15 pessoas desalojadas, 05 residências danificadas, os serviços essenciais danificados: água, transporte e comunicação.

As imagens acima são apenas uma fração do que poderia ser observado em Anitápolis em termos dos estragos produzidos pela chuva.

Tudo isso aponta para uma constatação, que foi observada pelos geólogos dos Institutos de Pesquisas Tecnológicas e Geológicas de São Paulo: “A estabilização do solo em Blumenau está muito precária. Qualquer chuva a mais poderá provocar novos deslizamentos”, afirma. “Mesmo que a cidade estivesse preparada para receber esta grande quantidade de chuva, os problemas causados por deslizamentos seriam semelhantes”

Cerca de 60% das áreas visitadas pelos técnicos na região de Blumenau estão em risco eminente e dificilmente pderão ser ocupadas novamente.

Anitápolis é um municipio pequeno em termos de número de habitantes, mas a forma descrita pelo Projeto Anitápolis para a exploração da jazida de fosfato coloca a área e a região em grande risco. A remoção da cobertura florestal nas encostas da Serra do Rio Pinheiro, que em si já é um crime ambiental por estar destruindo uma área de Floresta Atlântica situada em uma Área de Preservação Permanente, somados à lavra e seus terraços, exporá o solo as intempéries e em uma situação com a que estamos vivenciando, ofereceria um imenso risco. Toneladas de rejeito serão acumuladas em duas barragens que represarão dois lagos enormes que, com uma chuvarada intermitente poderão romper. O rompimento dessas barragens pode causar uma calamidade sem precedentes. O risco é tão grande que a região de Blumenau está hoje em estado de calamidade, assim como diversos municipios da região devido a décadas de desmatamentos e uso inadequado das encostas.

O Projeto Anitápolis está lutando pelo licenciamento para poder operar a jazida de fosfato. Eles ainda afirmam o seguinte em seu próprio site: "Caso os estudos econômicos confirmem a viabilidade econômica do projeto, a IFC pretende investir, ao redor de R$ 400 milhões, num período de 37 meses. A mina deve funcionar durante 33 anos, mas como costuma acontecer na mineração, o funcionamento poderá se estender por muitos anos mais, caso se confirmem novas reservas de minério." Eles afirmam que "caso os estudos confirmem a viabilidade econômica... pretendem investir..", ou seja, é uma atitude condicional. Estão dizendo que se tiverem a licença, irão ainda estudar a viabilidade da exploração. Para isso buscam a permissão para retirar a cobertura florestal nas encostas.

O texto no site do Projeto Anitápolis segue: "Na operação do projeto, devem ser criados 423 empregos diretos, dos quais 398 em Anitápolis. Quando estiver funcionando em plena capacidade, a IFC deve gerar ao redor de R$ 2,5 milhões todos os anos como arrecadação municipal ao redor de R$ 7,5 milhões para os cofres estaduais e federais."

Convém ressaltar que o custo da tragédia em SC está na ordem de R$ 500 milhões, fora os custos das consequências que serão muito superiores. Esse valor foi atingido após 2 dias de chuvas. O Projeto Anitápolis prevê investir R$400 milhões ao longo de 37 meses. Portanto, os custos de uma tragédia como a que acontece atualmente em SC ultrapassa esse investimento. Isso tudo sem falar no risco da perda de vidas que é inestimavel.

A região da bacia do Rio Tubarão/Braço do Norte também tem uma história de calamidades relacionadas a enchentes. Somente para refrescar a memória,

24 de Março de 1974 entraria não só para a história de Tubarão, no Sul catarinense, mais como uma das maiores enchentes já ocorridas na história recente do Brasil. Após dois dias de chuvas intensas, o rio que corta a cidade atingiu 10,22 m acima do nível normal.

O balanço da tragédia: 199 pessoas mortas, 60 mil desabrigadas na região (85% da população local na época), 3 mil casas destruídas. O cartório municipal contabilizou 46 mortos (oficialmente), porém, muitas pessoas permanecem desaparecidas, ou seus óbitos foram registrados em outros municípios.

Existe uma macabra semelhança entra as duas enchentes. Bastaram 2 dias de chuvas para produzir as calamidades. Em ambos os casos o nível da água nos rios Tubarão e Itajaí subio mais de 10 metros.

Portanto, precisamos ter essas catástrofes bem nítidas e presentes em nossas mentes ao pensar em aceitar um projeto, que a primeira vista parece ser o salvador da economia de Anitápolis. Aceitar uma obra dessa dimensão significa colocar o peso de um risco imenso de que com uma chuvarada como essa sobre a região poderá causar danos muito superiores ao que estamos assistindo na TV aterrorizados e com lágrimas nos olhos.

Por isso devemos ser contra o Projeto Anitápolis, contra a operação da jazida de fosfato e a favor de formas alternativas da produção de fosfato para nossa agricultura.





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