Thursday, April 24, 2008

PROJETO ANITAPOLIS E A MAQUIAGEM VERDE


O Laboratorio de Engenharia Ecológica e Informática Aplicada vem realizando uma serie de estudos comparativos com praticas de desenvolvimento agricola. Em um estudo sobre o ecossistema Agricola da produção de soja e milho.


Gráfico 3. Rentabilidade real do sistema soja-milho


Observações e discussão desse estudo:
Os gráficos 1 e 2 mostram que:
- A renovabilidade decresce ao aumentar o investimento económico.
- A rentabilidade cresce ao aumentar o investimento económico.
Neste caso a preocupação com o lucro impede a mudança para uma agricultura sustentável.

O gráfico 3 mostra que:
Quando se levam em consideração as perdas do sistema então as rentabilidades da opção orgânica e da opção de herbicidas são semehantes e ambas superiores a opção agro-química.

Se os responsáveis pelas politicas públicas levassem em consideração as perdas econômicas do sistema (solo, água, fertilizantes, etc.) poderia haver avanços no sentido de se atingir estágios superiores na transição para a agricultura sustentável.

Esse estudo sugere que o que estamos observando em nossa agricultura tem sido eminentemente imediatista e não sustentável. Quando você produz cada vez mais soja com um modelo agroquímico, para aumentar a produtividade, cada vez mais você vai ter pessoas contaminadas. No caso da contaminação humana por agrotóxico, a gente utilizou um banco de dados chamado cinetoques e ele me mostra que está aumentando, no Brasil, o número de contaminados por agrotóxicos.

Muitas empresas vem buscando atrair a atenção do consumidor com slogans, sites, propaganta paga em regista e televisão dizendo que sao empresas com preocupação na responsabilidade social e na sustentabilidade. Recentemente o CONAR retirou anuncios da Petrobras sob a acusação da prática da maquiagem verde. O Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) decidiu nesta quinta-feira suspender dois anúncios da empresa petrolífera por eles divulgarem uma idéia falsa de que a estatal tem contribuído para a qualidade ambiental e o desenvolvimento sustentável do país. O Conar julgou procedente a ação movida por entidades governamentais e não-governamentais como o Greenpeace, SOS Mata Atlântica, Movimento Nossa São Paulo, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), secretarias estaduais de meio ambiente de São Paulo e Minas Gerais, e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), entre outras.

O Grupo Bunge/Yara vem pleiteando o licenciamento ambiental para a exploração de uma jazida de fosfato na cidade de Anitapolis. O Grupo adquiriu a Serra do Rio do Pinheiro e promete investir - nos próximos três anos - R$ 550 milhões na construção de uma fábrica de fertilizantes na bela e intocada Anitápolis. Assim, esta sediará uma joint venture: a Indústria de Fosfatados Catarinense, com produção de 240 toneladas de ácido fosfórico e de 240 mil toneladas anuais de fertilizante. Isto representa 2,5% do consumo nacional de fertilizantes. O EIA RIMA da empresa afirma que a exploração do fosfato terá a duração de 33 anos. Isso implica que o Grupo Bunge/Yara explorará a jazida até exaurir a jazida.

A pergunta que se faz nesse momento é a seguinte:

A exploração da jazida de fosfato é uma atividade sustentável? Não estaria isso em direta contradição com o lema do Grupo Bunge/Yara que afirma: sustentabilidade é somar, contribuir e preservar para poder colher, pois o importante é produzir, hoje, de forma responsável e eficiente, para viabilizar a produção nas gerações futuras.

Lendo esse lema em termos gerais, a impressão é positiva. Eles querem, de uma forma responsável contribuir para que gerações futuras tenham como produzer seu alimento. A questão é: onde essas gerações irão buscar fosfato para produzir fertilizantes? Estaria a empresa comprometendo seu lema de ser sustentável? Estaria a empresa fazendo uma maquiagem verde para sua real atuação na agroindustria? Recentemente o O Tribunal Regional Federal da 1ª Região julgou favorável o pedido da Fundação Águas do Piauí (Funaguas), para impedir a utilização, pela empresa Bunge Alimentos, de utilizar lenha como matriz energética. O funcionamento da empresa no município de Uruçuí (Piauí) foi suspenso. Segundo a Funaguas, A Bunge diz que a madeira utilizada é de áreas desmatadas para plantio de soja. A realidade é outra, o cerrado do Piauí está sendo devastado e, segundo a Funaguas, mais de 80% das Guias Florestais utilizadas para legalizar a lenha da Bunge eram "frias" ou de localidades onde não acontecia plantio de soja, como Luiz Correia no litoral do Piauí, região de manguezais, a 850Km da fábrica.

Aparentemente estamos diante de mais uma maquiagem verde. Mais uma empresa buscando atrair a simpatia de umpublico desavisado, afirmando estar preocupada com a sustentabilidade. Palavra que está virando moda.

O Eia Rima da Bunge/Yara afirma que irão utilizar cavacos de madeira para processar o fosfato no Projeto Anitapolis. Seria isso alguma forma sutil de dizer que irão consumir lenha da mata atlantica local? Segundo a Funaguas, a Bunge utilizou lenha do cerrado extensivamente nos últimos anos até ser judicialmente proibida de continuar a utilizar essa fonte energética. Essas ações são totalmente antagônicas a politica de sustentabilidade e responsabilidade social da empresa apresentada em seus comerciais e sites.

Para dizer-se sustentável será necessário que realmente o seja, que tenha políticas e programas responsáveis e que todas as suas ações sejam pautadas por uma estratégia de sustentabilidade clara e transparente.

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