Anitapolis - Um Corredor de vida Ameaçado

UM CORREDOR DE VIDA AMEAÇADO

Com o crescimento das atividades humanas, a natureza vai dando lugar a cidades, plantações, parques industriais, e outras. Com esta ocupação, os ambientes naturais vão sendo recortados, gerando arquipélagos. Florestas se transformam em ilhas e estas mais ou menos distantes entre si. Para os habitantes destas ilhas, o processo desta separação, gera outros problemas. As arvores destas florestas precisam ser polinizadas e a distancia entre as manchas florestais dificulta a ação dos polinizadores. Animais sentem com maior intensidade este isolamento. A próprias aves, cujas capacidades de deslocamento pelo ar já implicam uma certa imunidade a um problema destes, também são afetadas. Por incrível que pareça muitas começam a ficar isoladas. O processo da fragmentação da floresta altera consideravelmente a composição de espécies destas ilhas florestais. Grandes predadores ficam raros, ou mesmo desaparecem devido as distancias envolvidas para o encontro de pares e do sustento de suas famílias em um ambiente mais pobre em alimento. Predadores menores proliferam na ausência dos maiores e com isso, a predacao sobre as aves e outros organismos nestas manchas de mata se intensificam contribuindo assim para o empobrecimento de espécies destes isolados.

As florestas da Serra Geral em Santa Catarina formavam um tapete verde continuo entre suas encostas e a Serra do Tabuleiro. A ação da colonização humana sobre estas florestas gerou uma colcha de retalhos. Arquipélagos de ilhas florestais interligados por matinhas que acompanhavam os rios. Em muitos setores desta região a ligação entre os dois corpos florestais formam verdadeiros corredores de vida, permitindo a passagem de animais que transportam sementes de um lado ao outro e, com isso a integridade natural permanece em razoáveis condições de conservação, mesmo apos a continua pressão de ações contrarias aos processos biológicos naturais.

O centro destes corredores naturais está nas nascentes do Rio Braço do Norte que forma com o Rio Tubarão a maior e mais importante bacia hidrográfica ao sul de Florianópolis. Um numero muito grande de cidades nesta região obtém seu abastecimento de água nesta bacia. As belezas naturais nesta região rivaliza paisagens de cartões postais internacionais. Em algumas regiões, atividades turísticas estão se desenvolvendo e gerando empregos e movimentando uma economia florescente. Esta economia é de baixo impacto ambiental.

Como já falamos em outro ensaio deste Blog (A Floresta que virou carvão) uma espécie de águia – o Gavião-Real-Falso (Morphnus guianensis) foi avistado recentemente na região de Grão Para, reforçando a idéia de que a região tem uma importância fundamental na conservação da Natureza. Esta águia utiliza este corredor, como o Gavião-Real (Harpya harpia) que foi avistado na Serra do Tabuleiro alguns anos atrás.

Pois este corredor esta agora sendo ameaçado pela exploração de uma jazida de fosfato em Anitapolis – centro deste corredor natural. A jazida estava paralizada até pouco tempo, quando uma empresa de mineração catarinense começou o processo da busca do licenciamento para explorar a jazida. Já são alardeados os inúmeros empregos que serão gerados pelo empreendimento e os benefícios ao município.
O interessante é que tentativas anteriores da exploração desta mesma jazida foi responsável pelo maior êxodo rural registrado na região, quando as famílias que habitavam o Vale do Rio dos Pinheiros foi comprado por uma companhia de fertilizantes anos atrás. Ou seja, os empregos hoje alardeados estão sobre uma base de um imenso problema social gerado na historia desta jazida.

Os benefícios destas atividades associadas à exploração do fosfato causarão um grande impacto ambiental. Danificarão a qualidade da água do Rio Braço do Norte próximo a sua nascente. Deteriorarão a paisagem e comprometerão consideravelmente a industria do turismo rural e ecológico que causa um baixo impacto ambiental.

Emprego por emprego, nossa terra precisa de atividades que possibilitem uma vida digna ao cidadão. Se o emprego ofereça alem do salário uma vida saudável ao ser humano e que esta atividade não cause um dano ao ambiente, com certeza este deveria ser priorizado.

O corredor de vida entre a Serra Geral e Serra do Tabuleiro oferece oportunidades de comunicação aos organismos que vivem nas florestas cada vez mais ilhadas e ainda oferecem alternativas lucrativas de baixo impacto a Natureza aos homens.