Monday, December 12, 2005


O DOBRO ADIANTA?

Tentando conhecer os danos ambientais que uma mina de fosfato acarretaria ao meio ambiente em Anitapolis, SC, consultei um amigo de infância, que agora é engenheiro de minas e vive na Austrália. Minha pergunta foi sobre os danos e ele mandou uma mensagem bem interessante e merecedora de uma boa reflexão. Já dei aulas de ecologia e meio ambiente a estudantes de engenharia e sempre achei uma necessidade este de conhecimento na bagagem de um engenheiro. O problema é que as disciplinas sobre ecologia e ambiente oferecidas aos alunos de engenharia são muito teóricas e afastadas da realidade que irão viver.
Meu amigo, que o chamarei pelo nick Pedro Mineiro, produziu umas boas perolas sobre o como compensar o dano ambiental produzido pelo empreendimento, no exemplo dele foi o caso da construção da estrada que liga Caxias do Sul ao litoral no Rio Grande do Sul. Só para situar o leitor, esta estrada desce a Serra Geral gaúcha, cortando a distância entre a serra e as praias passando por setores de Mata Atlântica em vários estágios de conservação. Algumas destas encostas estão ainda em ótimo estado de cobertura vegetal. Ocorre que uma estrada que desce uma serra, tem de fazer curvas e, muitas vezes o trajeto esbarra em uma mata bem conservada. Ambientalistas e Biólogos não gostaram do projeto e protestaram, causando atrazo e desvios no trajeto da estrada planejado pelos engenheiros.
Disse então o Pedro Mineiro “Um pequeno trecho da mata virgem serviu para embargar a execução da obra e retardou toda uma região por pura estupidez, ignorância e extremismo do órgão do meio ambiente do RS que eu até me esqueci o nome (FEPAM). Era muito simples a coisa toda. Era só mandar uma turma de estudante de biologia (ávidos por fazerem tudo de graça e cheinhos de patriotismo e boa vontade) guiados por especialistas da área (Da UFGRS) fazerem um levantamento de quantas árvores nativas seriam derrubadas e conseguir que a empreiteira ou o que lá fosse, se comprometesse em plantar o DOBRO! Que a coisa já estaria resolvida....infelizmente o que ocorre é uma briga entre dois lados que não se entendem e a obra não sai.”
Agora vocês entendem o titulo que dei a este texto e eu pergunto a todos, o DOBRO resolveria a perda das árvores originais? Provavelmente o meu amigo Pedro Mineiro, quando cursou Engenharia de Minas lá na UFRGS não aprendeu, ou se esqueceu a diferença entre uma floresta natural e uma plantação de árvores. A primeira como ele deveria já saber é o produto de séculos de evolução e a segunda é uma silvicultura, uma floresta homogênea que leva poucos anos para crescer e parecer uma mata. Dai que o Pedro Mineiro imaginou que um reflorestamento com eucalipto, ou pinus em DOBRO resolveria a questão. Este foi a primeira confusão do meu amigo.
A segunda vem agora com estas palavras: “O pior de tudo é fazer discriminação contra a mineração quando a legislação tem todos os meios de verificar de ante-mão quais as condições ambientais, além de flora e fauna serem exaustivamente amostradas para que ao término da mina as condições sejam exatamente as mesmas que eram no começo. Entendeu? Na verdade, há certas regiões que ficam mais férteis depois de mineradas do que eram antes de serem mineradas porque no plano geral o arredor era mais fértil que a área minerada (onde existia uma anomalia em certos minerais que
não propiciavam o mesmo tipo de solo que a vizinhança, entende?).” Concordo com ele que tem minas e minas. O sul catarinense é uma das regiões carboníferas mais importantes no pais e é também uma das regiões mais alteradas ambientamente. Rios contaminados e quase sem peixes. Solo acidificado impedindo a regeneração florestal e muitas, inúmeras plantações de eucaliptos. Parece que o pessoal da mineração empregou a norma do plantar em DOBRO. Mas o quadro e de irreparável devastação ambiental e social. Já a jazida do fosfato em Anitapolis tem uma historia não positiva a comunidade, uma vez que “...uma grande área do município foi desapropriada devido às jazidas de fosfato, porém este nunca chegou a ser explorado. Esta desapropriação causou um certo prejuízo para a cidade, pois na área desapropriada estão as terras mais férteis. O êxodo da cidade é um dos problemas. A população tem decrescido ao longo dos últimos anos, fato este que se agravou após a desapropriação. (Wikipidia)” O problema é que as terras mais férteis onde a jazida será explorada não estará disponível a população que foi desapropriada produzindo o êxodo rural. A garganta do Rio dos Pinheiros, onde está a jazida, tem no leito um vale que foi utilizada a agricultura e as encostas cobertas por uma mata atlântica mista. Esta garganta com cerca de 10 quilometros quadrados será impactada pela extração do fosfato. Este será o impacto inicial e fonte dos impactos seguintes, serão a poluição as águas do Rio Braço do Norte próximo as nascentes e do ar com o pó gerado na britagem para a extração do fosfato.
Outro ponto que não é considerado pelo empreendimento e seus engenheiros está associado a seu não conhecimento de Biologia da Conservação. Santa Catarina abriga uns dos melhores conservados remanescentes de Floresta Altantica no sul do Brasil. A região dos sopés e encostas da Serra Geral forma um corredor floristico e faunístico natural ligando esta à Serra do Tabuleiro. O setor mais ao sul na região de Criciúma e Orleans está muito afetado pela mineração do carvão. Já o setor entre a Serra do Corvo Branco e a Serra do Tabuleiro e um mosaico de paisagens florestais muito importante a biodiversidade regional. Anitapolis esta justamente no meio deste corredor e a exploração da jazida de fosfato apresenta um serio problema a conservação deste corredor natural. A região apresenta uma beleza impar, com paredões, canyons, encostas luxuriantes que proporcionariam muita atração ao ecoturismo e outras atividades economicas de baixo impacto.
O DOBRO não resolve a questão, uma vez que 10, ou 100 hectares de pinus, ou eucalipto não oferecem ao ecossistema o mesmo que a cobertura original. Um pouco de conhecimento de Biologia da Conservação certamente auxiliaria nosso amigo Pedro Mineiro a julgar melhor estas questões.

1 comment:

Anonymous said...

De acordo! O dobro, nem o triplo quádruplo nem nada adiantaria. E digo mais: nem mesmo se fosse plantado esse dobro de espécies nativas, não poderíamos ter o mesmo efeito. É mais ou menos como expulsar o Pedro Mineiro de sua casa e dizer que irá lhe construir uma outra bem maior no mesmo lugar... Mas o cara terá de morar ali mesmo enquanto espera fazerem a fundação, as paredes, o telhado... Abraços, Fernando C.Straube