PROJETO ANITÁPOLIS E O VÔO 447 - A ROTA MAIS ECONÔMICA E A SEGURANÇA

O ex-piloto alemão e especialista em segurança de vôo Tim Van Beveren, autor do livro O risco voa junto, afirmou, em entrevista ao jornal O Globo, que as companhias aéreas levam em consideração apenas o aspecto econômico quando planejam os vôos. Segundo ele, a rota mais segura para vôos com destino à Europa teria um prolongamento de cerca de 1,5 mil km.

"Segundo os meus cálculos, para evitar essa megaturbulência que ocorre com freqüência nesta época do ano e a Air France deve conhecer muito bem o fenômeno, já que foi a primeira empresa a voar para o Rio, seria necessário o prolongamento da rota em 1,5 mil km. O avião precisaria deixar o Brasil mais ao norte, passar pela Guiana e fazer um arco no Atlântico", explicou Beveren. "Mas isso custaria para a companhia mais combustível, uma hora e meia de atraso e cobertura dos custos pelos vôos de conexão perdidos. Quando ocorre uma catástrofe, a companhia perde apenas a boa imagem."

A decisão pela rota mais econômica pode ser desastrosa. Dezenas de aviões passaram pela mesma região do Atlântico naquela mesmo periodo, mas apenas o vôo 447 sofreu o desastre. Considerando probabilidades, os acidentes aéreos são os que apresentam as menores em relação aos acidentes de trãnsito. Olhando por esse ângulo descompromissado, essa idéia parece simpática. Olhando sob o ângulo das centenas de passageiros que morreram naquele desastre, isso tem um valor totalmente diferente e de uma dimensão imensamente maior aos parentes que correm de canto em canto em busca de noticias dos entes desaparecidos.

O Projeto Anitápolis é um projeto que busca explorar a jazida de fosfato ainda inexplorada no sul do Brasil. Em plena Mata Atlântica, no coração do Corredor da Serra Geral está essa jazida de fosfato. A localização especifica dessa fosfateira é exatamente nas cabeceiras do Rio Braço do Norte, um dos maiores rios do litoral catarinense e formador de uma das maiores bacias hidrograficas do estado - a bacia do Rio Tubarão. Essa bacia ja ocupou manchetes dos principais jornais do pais devido as inumeras e avassaladores enchentes que ocorream. Algumas delas deixaram marcas indeléveis na memória dos moradores da região como a enchente de 1974.

Planejar a exploração de jazida do porte da localizada no Rio dos Pinheiros nas nascentes do rio Braço do Norte já é um crime ambiental por violar uma série de leis federais. O crime é ainda maior levando em conta a escassez da água no mundo moderno, que já antevê guerras pela posse desse líquido precioso. O crime é ainda maior considerando o recente desmoronamento da Barragem do Piaui que causou danos enormes. O crime é ainda maior levando em conta que Santa Catarina viveu em novembro do ano passado uma catastrofe quase que bíblica destruindo milhares de residências e causando centenas de mortes no Vale do Itajaí.

Dias atrás o Governador Luiz Henrique recebeu a visita da Embaixadora da Noruega. No segundo semestre, uma missão oficial de Santa Catarina estará em Oslo, a capital da Noruega, para oficializar a implantação de uma fábrica de fertilizantes em Anitápolis, na Grande Florianópolis. A visita da embaixadora foi acompanhada pelo presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fatma), Murilo Flores.

A notícia dessa visita diplomática causou estranheza devido ao fato do referido projeto ainda estar buscando cumprir requisitos impostos pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina. Os proprietários do Projeto Anitápolis ainda não cumpriram as exigências do MPF catarinense, consequentemente é de se estranhar que o Governador Luiz Henrique tivese assegurado a embaixadora da Noruega que o estado estaria dando todas as condições para o funcionamento dessa obra de mineração. Pelo jeito alguém pretende impor o licenciamento desse sinistro projeto à população catarinense.

O Governador do Piaui disse recentemente, após o desastre com a barragem em seu estado que não se podia culpar ninguem. O mesmo governador disse dias antes do desastre no Piauí que a barragem era segura e que os moradores poderiam retornar as suas residências. O fato foi que as pessoas sofreram perdas materiais inestimáveis após seguirem o conselho do referido governador, consequentemente podemos sim culpar alguém - no caso ele mesmo por ter vindo a público afirmar a segurança da barragem.

O Governador Luiz Henrique esteve diante das vítimas da catástrofe em Blumenau, Itajai e Morro do Baú passando conforto as mesmas, chorando inclusive. Esse mesmo governador deveria ter a noção de que nosso estado é palco de enchurradas catastróficas. Esse mesmo governador deveria ter lido e visto os diversos relatórios e textos elaborados pelo próprio estado de Santa Catarina apontando a região do Rio dos Pinheiros como uma área de grande risco. Não precisa ser um grande especialista para ver que um projeto com duas barragens de rejeito com 80 metros de altura sobre o nível do rio dos Pinheiros é um risco muito grande. Não podemos esquecer que o Estado de Santa Catarina é considerado um estado campeão em desmatamentos.

Certamente os técnicos que calcularam a rota mais econômica para o Airbus do voo 447 só pensaram nos lucros. Os lobistas internacionais que buscam o licenciamento da fosfateira em Anitápolis apenas olham as telas de seus computadores em seus gabinetes com ar condicionado muito distante da serra catarinense. Eles pensam apenas nos lucros derivados dessa fosfateira em Santa Satarina. Essas pessoas olham as altas e baixas das bolsas de valores, mas ignoram o valor humano em jogo na distante Anitápolis que terá, caso licenciado esse projeto criminoso, aumentado os riscos das vidas de seus moradores e demais moradores nas cidades rio Braço do Norte abaixo. Para ser mais aproximado, cerca de 160 mil pessoas passarão a correr um risco enorme. Uma economia próspera, geradora de milhares de empregos correrá um risco enorme.

Estará o Governador Luiz Henrique disposto a pagar esse preço? Terá ele a coragem de aparecer de helicóptero com lágrimas nos olhos, caso um erro aconteça e as barragens desmoronem? Não foram necessários muitos erros para que o Airbus da Air france no vôo 447 desaparecesse em meio do Atlântico...

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