Wednesday, July 26, 2006

BARRAGENS NO RIO PELOTAS E CORREDORES

Depois de muita confusão, violência e ativismo mal assessorado juridicamente a Barragem de Barra Grande é uma realidade. Mais de 6 mil hectares de florestas mistas de araucárias centenárias estão submersos e outros tantos em fase de alagamento. Estas florestas que não constaram no famoso EIA RIMA da consultora do empreendimento, eram de importância capital á conservação regional. Espécies ameaçadas como as próprias araucárias estavam ali representadas pelos, possivelmente, últimos exemplares com tamanho e historia de vida. Arvores com mais de 40 metros de altura foram afogadas e hoje estão sendo retiradas por mergulhadores para o comercio de sua madeira. Isto tudo sob a licença do IBAMA.


Lago da Baesa com a mata submersa e mais 50 metros acima do presente nivel a ser alagado

Estas mesmas árvores propiciavam substrato para a construção dos ninhos do gavião de penacho (Spizaetus ornatus) e da Águia Cinzenta (Hapyhaliaetus coronatus). Esta ultima esta entre as espécies ameaçadas na lista oficial de espécies ameaçadas do FNMA.

Com o alagamento do leito estreito e profundo do Rio Pelotas, o espaço ocupado pelas florestas nas encostas do Rio Pelotas ficou mais estreito e comprimido entre o lago da represa BAESA e o reflorestamento de Pinus no topo das encostas. Isto significa que restou menos habitat para as espécies que utilizavam o leito do vale para construir seus ninhos.


A floresta nativa comprimida entre o lago e o refloretamento de Pinus no alto da encosta


A construção da BAESA resultou em uma menor area para nidificação de espécies ameaçadas como a Águia Cinzenta e diversas espécies de Pica-paus, como o Dryocopus lineatus e Campephylus robustos.

Uma lição precisa ser aprendida com a realidade da Baesa. Barragens em rios encaixados como o Rio Pelotas comprometem seriamente a conservação de espécies ameaçadas. Estas barragens acabam reduzindo e mesmo destruindo os corredores existentes.

Corredor ecologico do Rio Pelotas unindo a Serra Geral ao Planalto

Outra barragem – PAI QUERE - encontra-se em franca fase de lobby intensivo nas esferas político governamentais do Estado de Santa Catarina. Pai Quere abriga florestas em bom estado de conservação. Já não conta com as araucárias centenárias que foram afogadas na Fazenda Gateados pela BAESA, mas uma floresta mista que vem desde a margem do Pelotas ate os campos de Lajes. Estas matas adentram os campos com matas de galeria, ramificando mais ainda o seu poder de corredor ecológico. A Águia Cinzenta utiliza estas encostas para seus ninhos, assim como o Gavia Penacho (Spizaetus ornatus) e o gavião Pato (Spizaetus melanoleucus) – todas ameaçadas no estado do Rio Grande do Sul, ou nacionalmente no caso da Águia Cinzenta.

O Rio Pelotas é um importante corredor ecológico no sul do Brasil e precisaria estar entre as prioridades para a conservação da incrível biodiversidade na Floresta Atlantica sulina. Precisamos estar atentos aos movimentos pro-Pai Quere e deixar claro que as florestas lá existentes são de importância capital a conservação regional.

A legislação ambiental deve ser atualizada e exigir uma compensação pelos danos mais pertinente e justa. Os empreendedores responsáveis por estas barragens deveriam restaurar os corredores ate uma distancia de 150 metros da margem de suas represas. Parece um absurdo esta proposta? Estes executivos deveriam então pensar nos custos do assoriamento do lago de sua represa e as perdas financeiras resultantes disso. A longo prazo uma restauração da vegetação florestal com espécies nativas da região reduziria a erosão e o assoriamento da barragem.

Rio Pelotas acima da Baesa e proximo a Paiquere - matas de grande valor para a conservação bem visiveis para todos - lembrem disso.

Outra necessidade urgente para a conservação destes corredores no Rio Pelotas e de um maior ativismo por parte dos Biólogos que trabalham na região. Os dados que estes vem acumulando deveriam estar disponíveis para a comunidade em geral, para a Procuradoria geral da Republica, de forma que esta informação pudesse ser útil nas batalhas legais travadas entre o Ministério Publico Federal e os responsáveis por empreendimentos que ameacem a integridade natural de nossos ecossitemas – nosso patrimônio natural a ser herdado pelos nossos filhos e netos.

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