Saturday, May 27, 2006

ÁREAS PRIORITÁRIAS DE CONSERVAÇÃO NO EXTREMO SUL DO BRASIL

O Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentam muito de sua área ocupada por atividades agropastoris e silvicultura. Utilizando o Google Earth como um observatório privilegiado podemos ver claramente o impacto antrópico. Igualmente podemos observar a existência de corpos florestais significativos nestes dois estados sul-brasileiros. Em Santa Catarina temos as encostas das Serras Geral, do Tabuleiro, do Itajaí, do Tijucas, a Ilha de Santa Catarina e a Serra do Mar cobertas pela Mata Atlantica Ombrofila Densa. Varias unidades de conservação estão distribuídas nas serranias catarinenses, como o Parque Nacional de São Joaquim, Parque Nacional do Itajaí e o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

Entre as unidades de conservação catarinense temos as encostas da Serra Geral que as une desde o Rio Grande do Sul formando um grande corredor ecológico.

No Rio Grande do Sul temos os Parques Nacionais dos Aparados da Serra e do Itaimbezinho. Existem também algumas reservas na Serra Geral gaúcha. Para muitos gaúchos, a situação de conservação nestas áreas florestais não é muito alentadora.

Podemos ver a situação com outros olhos mais otimistas, principalmente se utilizarmos os instrumentos simples oferecidos pelo Google Earth e o Atlas dos Remanescentes da Mata Atlantica online do site da SOS Mata Atlantica.

Áreas prioritárias para conservação no extremo sul brasileiro. 1)Corredor ecológico da Serra Geral e Tabuleiro; 2) Corredor ecológico do Rio Pelotas; 3) Depressão Central e Serra Geral Gaúcha.


Na figura acima podemos ver o corredor da Serra Geral ligando a Depressão Central Gaúcha as unidades de conservação catarinense. A área aproximada da cobertura florestal da Depressão Central no Rio Grande do Sul é cerca de 462.000 hectares. Muito desta cobertura florestal está fragmentada o que não desmerece seu valor para a conservação.

Não devemos esquecer que os animais que ainda vivem nestas florestas estão “adaptados” a estas condições há muitas gerações. Tendo por base as aves de rapina, podemos dizer que os Gaviões Pega Macaco e Gaviões de Penacho ainda presentes nestas florestas nasceram ali e são descendentes de pais que também nasceram nestes fragmentos. O que eu quero dizer é que muitas vezes os gestores ambientais, ou mesmo pesquisadores estão com a espectativa de que estas aves de rapina devessem se comportar como as que estamos “treinados” a imaginar – as aves amazônicas.

Somente para ilustrar este ponto, gostaria de mencionar minha experiência com o Gavião Real na Serra do Tabuleiro. Eu registrei um casal destas águias simultaneamente em outubro de 1989 em Caldas da Imperatriz. Naquela ocasião, observei as aves em display nupcial, intercalados por vôos planados. Para uma ave de rapina, tanto de pequeno porte como um Gavião Carijó, ou mesmo o Gavião real, planar utilizando as abundantes termas das encostas de uma serra como a do Tabuleiro é uma façanha natural. Por outro lado, ornitólogos americanos que avistaram o gavião real na Amazônia, observaram a ave pousada, ou em vôos entre arvores, sem mencionar que da posição que normalmente um observador se encontra nas margens de rios, ou igarapés Amazônicos não é possível muitas vezes se observar as águias voando sobre as copas das árvores. Esta limitação dos observadores levaram a crença de que os gaviões reais não planam. Como vários destes ornitólogos são pessoas famosas no meio acadêmico, o dogma de que os gaviões reais não planam passou a circular entre o meio acadêmico.

Tendo isto em mente podemos seguir nosso texto e raciocínio. Estávamos falando nas condições de conservação nas florestas sul-brasileiras. Até recentemente alguns dos representantes dos gaviões de penacho eram considerados extintos no Rio Grande do Sul. O Projeto Gaviões de Penacho registrou uma grande diversidade de aves de rapina de grande porte nas encostas da Serra Geral em Urubici. Um estudo similar executado durante a consultoria para a obtenção do licenciamento da Usina Barra Grande encontrou também uma alta diversidade de aves de rapina no corredor do Rio Pelotas. Entre as aves registradas está um ninho do Gavião de Penacho nas margens do Rio Pelotas (Cristian Joenk). Estes dados vieram a chamar a atenção dos ornitólogos gaúchos que nem tudo esta perdido e que precisamos sim de muita luta para a conservação dos remanescentes florestais gaúchos.

Portanto gostaria de sugerir a Depressão Central no Rio Grande do Sul como uma área prioritária para a conservação de remanescentes florestais. Não seria somente a necessidade de unidades formais de conservação, mas principalmente um programa capacitação de proprietários rurais para atividades de baixo impacto que valorizem a paisagem e seu uso na complementação da renda familiar em atividades como o ecoturismo.

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